Espermograma

ESPERMOGRAMA




O espermograma convencional inclui o estudo de aspectos particulares da função espermática como a concentração, motilidade e morfologia, assim como, na quantificação e identificação de células não espermáticas, anticorpos anti-espermatozóides e testes de penetração . Os exames citológicos fornecem informações importantes sobre a quantidade e a qualidade dos espermatozóides e sobre a atividade secretora das glândulas acessórias genitais. Os resultados do espermograma são importantes para a avaliação da atividade funcional dos órgãos sexuais masculinos e de seus distúrbios. Portanto, ajuda no diagnóstico de infertilidade, infecções e de patologias genitais. Para um diagnóstico preciso de infertilidade, qualquer resultado anormal deve ser sempre relacionado com alterações em outros parâmetros. Além disso, os cuidados com a colheita do material, conservação da amostra, intervalo de tempo entre o ejaculado e as análises, metodologias empregadas devem ser observados, pois estes podem interferir no resultado final .

Quanto à coleta do material, o paciente deverá coletá-lo no próprio laboratório, em um ambiente calmo e privado para evitar inibição, evitando colheita inadequada, o que pode prejudicar a análise de diversos parâmetros seminais . A abstinência sexual varia entre 3 e 7 dias, padronizando-se abstinência de 5 dias. A freqüência de coito diminui a concentração dos espermatozóides e prejudica a motilidade. Caso seja dosado frutose deve-se fazer jejum alimentar de 12 horas .

Após a ejaculação, homogeneizar bem a amostra e mantê-la na estufa a 37o C, até a liquefação final . O exame deve ser feito dentro de 30 a 60 minutos . Para avaliação inicial, devem ser coletadas 2 amostras, num intervalo de 7 dias a 3 meses .

Em relação ao exame físico, os testes só poderão ser realizados após a liquefação total do sêmen, pois durante a fase de coagulação, além do esperma ser naturalmente heterogêneo, os espermatozóides ficam retidos nos "coágulos" formados após a ejaculação, o que altera a análise física. Portanto, a maioria das provas serão iniciadas dentro dos primeiros 30 minutos após a coleta do material, esse tempo deve ser respeitado porque com o passar do tempo, os parâmetros irão se alterando .

EXAMES MICROSCÓPICOS

São os mais importantes, porque não se pode tirar conclusões definitivas somente com o exame macroscópico . A análise microscópica inicial da amostra de sêmen consta do estudo da concentração, motilidade, morfologia, vitalidade e citologia geral .

a) CONTAGEM DE ESPERMATOZÓIDES: o número de espermatozóides por ml varia entre 60 e 120 milhões. Números maiores (polizoospermia) não são patogênicos. Números inferiores (oligozoospermia) são anormais .

A contagem dos espermatozóides é realizada em câmara de Newbauer. A concentração é definida segundo as normas da OMS:
- Normozoospermia: > 20 x 106 espermatozóides/ml.
- Oligozoospermia: < 20 x 106 espermatozóides/ml.
- Polizoospermia: > 200 x 106 espermatozóides/ml.
- Azoospermia: nenhum espermatozóide no ejaculado .

b) MOTILIDADE: a motilidade espermática é a mais importante medição individual da qualidade seminal e pode ser fator compensador em homens com contagem espermática baixa .

A motilidade sofre influência de vários fatores, entre eles, a viscosidade, a temperatura e as radiações eletromagnéticas (raios-X, luz ultra-violeta e a própria luz visível). Após longos períodos de abstinência (superior a 30 dias), há um aumento significativo de espermatozóides imóveis. A motilidade é um fator necessário para a fertilidade, porém, não é suficiente para indicar capacidade de fertilização .

É avaliada de duas maneiras: a quantidade de esperma com motilidade como porcentagem do total e a qualidade do movimento espermático de progressão em linha reta, isto é, rapidez e a capacidade do espermatozóide de produzir em linha reta .

A amostra de sêmen será considerada normal se mais que 50% dos espermatozóides forem do tipo A e B ou se pelo menos 25% dos espermatozóides encontrados forem do tipo A .

c) MORFOLOGIA: os tipos morfológicos considerados mais característicos na prática laboratorial são: normais, ectasias, microcefálico, macrocefálico, bicaudais, bicéfalos, fusiformes, mistos; disformes, piriformes. Formas fusiformes e ectasia aparecem com maior freqüência nos casos de alterações da temperatura escrotal (varicocele, hidrocele, entre outras) .

Dois procedimentos são recomendados para esta avaliação, o primeiro é análise convencional: segundo a OMS, a análise morfológica pelo critério convencional, é considerada normal, quando são encontrados pelo menos 30% de espermatozóides normais . Porém, de acordo com a classificação de Sérgio Piva, é necessário encontrar acima de 70% de formas normais para considerar a amostra com morfologia normal e quando encontrados acima de 30% de formas anormais, não importando a forma anormal predominante, a amostra é considerada teratospérmica .

A presença de grandes números de células imaturas, amorfas e afiladas é atribuída a função testicular alterada. Para a análise morfológica pelo critério estrito, muito utilizada em clínicas de fertilização in vitro, para produzir as chances de fertilização, os valores maiores que 14% de espermatozóides normais indicam que são boas as chances para a fertilização. Valores entre 4 e 14% também são favoráveis, embora com chances menores, ao passo que os valores menores que 4% são de prognóstico ruim .

d) VITALIDADE: se reflete na proporção dos que estão "vivos", determinados pela exclusão do corante ou pela capacidade de regulação osmótica sob condições hipo-osmótica . Consideram-se normais os sêmens com vitalidade espermática maior que 60% .

e) CONTAGEM DE LEUCÓCITOS: o ejaculado invariavelmente, contém, além de espermatozóides, outros elementos celulares. Estes incluem células epiteliais poligonais do trato uretral, células da espermatogênese e leucócitos, os quais têm sido chamados coletivamente de "células redondas". Os leucócitos estão presentes na maioria dos ejaculados humanos, sendo que a célula predominante é o neutrófilo. Uma determinação do número de leucócitos é importante porque a presença excessiva dessas células (conhecida como leucocitospermia) pode indicar a existência de infecção do trato reprodutivo a qual poderia responder a uma terapia com antibióticos. Além, disso, a leucocitospermia pode estar associada com defeitos no perfil seminal, incluindo redução tanto no volume do ejaculado quanto na concentração e motilidade dos espermatozóides, e ainda também alteração na função espermática como resultado do stress oxidativo e/ou da secreção de citoquinas citotóxicas. Um limiar de concentração de leucócitos, a partir do qual a fertilidade possa estar comprometida, é difícil de definir .

O impacto destas células depende do lugar no qual os leucócitos invadem o sêmen, tipos de leucócitos envolvidos e o seu estado de ativação. Em virtude da susceptibilidade dos espermatozóides humanos ao stress oxidativo, a presença de neutrófilos é tida como prejudicial particularmente se a infiltração ocorre no nível da rete-testis ou epidídimo. Por outro lado, a invasão dos leucócitos no momento da ejaculação, via próstata ou vesículas seminais, é provavelmente menos prejudicial devido ao poder antioxidante do plasma seminal. De uma maneira geral, um ejaculado normal não deve conter mais que 5 x 106 células redondas por ml, enquanto que o número de leucócitos não deve exceder 1 x 106 /ml . Uma concentração acima de 1 x 106 /ml indica o desenvolvimento de infecções capazes de contribuir para a subfertilidade. Portanto, a ausência de leucócitos não exclui a possibilidade de infecção de glândula acessória .

f) PESQUISA DE ANTICORPOS ANTIESPERMATOZÓIDES: os espermatozóides contém diversos componentes antigênicos em sua estrutura, que estimulam uma resposta imune em determinadas circunstâncias, produzindo anticorpos antiespermatozóides no homem (resposta auto-imune), ou na mulher (resposta iso-imune) . Os anticorpos espermáticos no sêmen pertencem quase que exclusivamente a duas classes imunológicas: IgA e IgG. Os anticorpos IgA têm maior importância clínica que os anticorpos IgG . Estes anticorpos interferem em diversas etapas do processo de reprodução humana e reduzem as chances de fertilização . Os anticorpos antiespermáticos não destroem nem imobilizam os espermatozóides, eles podem interferir no funcionamento espermático através da sua simples aderência à membrana plasmática dos espermatozóides. Essa aderência pode levar a aglutinação dos espermatozóides. Os anticorpos antiespermáticos interferem também na penetração normal e no trânsito dos espermatozóides no muco cervical .

Esse teste é recomendado na rotina do espermograma, sobretudo em casos de aglutinação espontânea e/ou baixa de motilidade, em testes pós-coito negativo com espermograma normal e em casos de infertilidade conjugal sem causa aparente .